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Uma visão holística do esgoto




Até onde as estações de tratamento de esgoto são eficientes? A modernidade tem nos mostrado que apenas usufruir dos bens de Gaia já não é válido. A Ciência revela, cada vez mais, os “segredos” da vida e do universo. Hoje somos chamados ao bom-senso e aplicar, de forma amorosa e responsável, os conhecimentos que nossa inteligência e sensibilidade conseguiram desvendar. Tudo isso envolve mudanças de paradigmas e de hábitos. Sabemos que nos rios vivem bactérias que se alimentam do esgoto e fornecem como produto final os minerais. Estes adubam a água, nutrem as algas para fazerem fotossíntese, sustentando a vida dos outros animais do ambiente aquático e adjacências. Isto tudo é natural e harmonioso desde que... a quantidade de esgoto seja pequena e natural! Quando o rio recebe excesso de esgoto – como ocorreu com o Rio Tamisa, em Londres e o Tietê, em São Paulo – suas bactérias, com fartura de alimento, reproduzem-se velozmente e a enorme quantidade delas provoca o consumo total do oxigênio existente na água. Animais maiores, como os peixes, são os primeiros a morrerem pela falta de oxigênio e a poluição está deflagrada. Na ausência do oxigênio, posteriormente, as bactérias também morrem e deixam espaço para suas “primas” chamadas bactérias anaeróbicas, que sobrevivem sem ele. Estas não fazem a decomposição completa do esgoto e “fabricam” substâncias tóxicas e mal cheirosas. As estações de tratamento de esgoto têm por finalidade acelerar o processo de decomposição, fora do rio, para posteriormente nele despejar a água sem contaminação. O adubo produzido nestas estações pode ser reutilizado na agricultura. Até aqui tudo está de acordo com a receita ditada pela Ecologia.Na visão holística, apenas tratar o esgoto não basta. Fritjof Kapra em seu livro “o Ponto de Mutação” diz que, nos Estados Unidos, mil novos produtos químicos são produzidos e comercializados anualmente na forma de aditivos alimentares sintéticos, pesticidas, agrotóxicos e plásticos. A indústria farmacêutica elabora, em grande escala, remédios e antibióticos que ingerimos e eliminamos através da urina e das fezes. Muitos destes produtos não sendo reconhecidos pelas bactérias e fungos, concentram-se na água dos rios, tornando-a imprópria ao consumo. Várias cidades do Estado de São Paulo já são abrigadas a procurar, cada vez mais longe, a água potável, pois as técnicas de purificação utilizadas nas estações de tratamento de água não conseguem retirar os produtos químicos nela dissolvidos. Será que já não é hora de resgatarmos as plantas medicinais que curaram os nossos ancestrais e que por serem naturais, são decompostas quando eliminadas pelo nosso corpo? Não somos contra os remédios alopáticos que, graças a eles, muitas doenças letais dos séculos passados hoje são facilmente curadas. Mas será que não há um exagero no seu consumo? Se optarmos por uma alimentação com menos aditivos químicos, consumindo e produzindo mais produtos orgânicos, será que o esgoto que produzimos não terá melhor qualidade? Se tivermos emoções e sentimentos mais harmoniosos, mais amorosos, estaremos menos estressados e menos doentes. E se nossa alimentação for mais natural, seremos mais saudáveis, consumindo menos remédios, poluindo menos! Conseqüentemente os rios que atravessam as cidades serão mais piscosos e poderão nos saciar a sede e proporcionar mais lazer. Suas águas, mais puras, escoando para rios maiores, levarão às outras cidades e aos oceanos o nosso legado.Nessa teia da vida, a lucidez de nossa consciência, associada à nobreza dos nossos sentimentos geram atitudes responsáveis e expressam o Sagrado que existe em cada um de nós. Por tudo isso, Gaia agradece e nos retribui em equilíbrio e harmonia.



Maria Ida Bachega Bolçone, escritora, professora de Biologia, com vários cursos na área ambiental e holística.

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