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Água Metálica



Água Metálica
I
a água e seus metais
suas línguas de aço
- hélices de ilhas oceânicas

mercurocromo cura
as feridas das pedras
e os dentes da ferrugem
roem as pestanas
dos olhos-d’água
desde quando o cálcio
anda descalço
pôr veredas de escamas

obreiros da maré
construíram
abismo de olho grande
- piscina de água-viva -
- santuário de golfinho -
- cama de baleia -
e um céu para o peixe-lua
fazer luar no inferno
onde moram o peixe-diabo
e o diabo-marinho

II


tubarão-martelo
ronda caverna de manganês
a procura do peixe-prego
para pregá-lo
na cruz-de-malta
da parede do estômago

ferro
chumbo e elefante-marinho
pesam na consciência
dessas águas batizadas
com sal
e óleo de caranguejo
sob a bênção do peixe-frade

ondas de cobre derretido
avançam montadas
em cavalos-marinhos
e pêlos de alumínio

III

dedos de mariscos
tocam a nudez da praia
enquanto
bolhas de pedra-sabão
acendem o pisca-pisca
do peixe-estrela

a vida fez das ostras
seus ouvidos
- fez das algas
cabelo de potássio
e das conchas miúdas
fez o chocalho da aurora
para acordar o peixe-sono

com césio e espinha de peixe
a rosa-dos-ventos
faz tatuagem nas costas do mar
ao primeiro canto do peixe-galo
gravado em disco voador
CD e peixe-disco


IV

o peixe-aranha
tece a teia com fios d’água
para proteger o peixe-sapo
do ataque do peixe-cobra
- no instante de magnésio
o peixe-cabra berra -
- o peixe-vermelho protesta
e o peixe-beijador suga
a língua da garoupa-crioula -
de quebra-galho
o peixe-macaco come
banana-d’água e peixe-folha

o peixe-gato mia
pega o peixe-rato e come
- o peixe-agulha
borda o peixe-zebra
fazendo (fa)iscas
para pescar o peixe-elétrico
num curto-circúito -
- o peixe-doutor
e o peixe-de-briga fumam
o peixe-cachimbo da paz -
ao meio-dia de sódio
o peixe-pescador acende o fogo
com peixe-mulher e peixe-lenha

línguas de enguias
lambem os pés
de Fernando de Noronha
na hora de níquel
em que o peixe-soldado
por ordem do cabo Orange
toca o peixe-trombeta

V

a um passo das nuvens
a terra abre as pernas
a ouro-fio e peixe-prata
para conceber a luz do sol
e parir o arco-íris
como se fosse fóssil
de barbatanas
ou dobra de zinco

quando chega a noite
o sol se esconde
na bainha do peixe-espada


In memorian de Leônidas Arruda


postado originalmente 05/02/2008 05/02/2009

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